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Construindo um caso: o fracasso e o impossível

  • Foto do escritor: Marianna Flamarion
    Marianna Flamarion
  • 10 de out.
  • 13 min de leitura

Atualizado: 11 de out.




CONSTRUINDO UM CASO: 

O FRACASSO E O IMPOSSÍVEL 

Marianna Carvalho Mattoso Flamarion Vargas








A construção de caso como problema epistemológico


Na clínica psicanalítica, especialmente na teoria lacaniana, a formalização da experiência analítica encontra um de seus desafios na construção de caso. Frequentemente, observamos um retorno, ainda que em uma forma latente, à lógica psicológica da individualização, mesmo por parte de analistas experientes.

O que encontra-se como impasse é a confusão entre o sujeito e a pessoa, entre o sintoma e o sofrimento, entre a posição subjetiva e o que é da ordem do comportamento. Esse equívoco conceitual decorre de uma fragilidade epistemológica central no lacanismo: a ausência de uma formalização rigorosa do que se entende por caso clínico e por técnica no ensino de Lacan.


Este texto surge na tentativa de tensionar essa lacuna. O percurso que aqui se reconstrói foi proposto originalmente como uma resposta à recorrência de impasses clínicos identificados entre psicanalistas. Como escutar o sujeito quando se está, sem perceber, escutando um indivíduo? Como construir um caso sem reduzi-lo a um retrato moralizante, narrativo ou psicopatológico? Como sustentar o ato analítico a partir da primazia do significante e da lógica discursiva?

A proposta que orienta este trabalho não se oferece como uma técnica, nem como um protocolo clínico a ser seguido feito um manual. Ao contrário, ela parte da hipótese de que a construção de caso, na psicanálise lacaniana, não é um exercício de descrição, mas um efeito de leitura. E uma leitura que se inscreve dentro de uma estrutura: a estrutura do inconsciente, entendido como campo do significante e do Outro. Nesse sentido, a construção de caso é inseparável da posição do analista, de sua escuta, de sua leitura e, sobretudo, de sua relação com a teoria que sustenta a experiência analítica.

Ao longo do texto tentaremos recuperar a radicalidade do ensino de Lacan, não como um dogma, mas como um deslocamento epistemológico contínuo em um esforço de rigor teórico em meio a um campo ainda atravessado por demandas de sentido, garantias terapêuticas e capturas imaginárias.


O inconsciente relacional: um deslocamento de paradigma


Ao abordar a construção de caso na psicanálise lacaniana, é inevitável que se retome a questão fundante: o que é, afinal, o inconsciente? A resposta que Lacan oferece implica uma ruptura, ou ao menos, uma mudança de paradigma teórico. Se, para Freud, o inconsciente ainda pode ser concebido como repositório de representações recalcadas, para Lacan, o inconsciente é efeito da linguagem e se manifesta como um discurso, isto é, como efeito discursivo que se dá a partir de uma relação de imisção entre sujeito e Outro. Nesse sentido, o inconsciente lacaniano não é uma instância intrapsíquica, mas uma estrutura relacional.

O uso do termo inconsciente relacional, embora não seja uma terminologia explícita de Lacan, permite nomear um ponto essencial de seu ensino, desde que reinscrita rigorosamente no campo da estrutura. Trata-se de enfatizar que o inconsciente, em Lacan, não é uma instância psíquica interior de alguém, mas uma articulação que só se verifica na linguagem e na relação com o campo do Outro. O relacional, aqui, não é interpessoal, ele não se refere a um vínculo entre dois indivíduos, nem a uma zona partilhada de afetos. Como sublinha Ricardo Goldenberg, no seu último livro, Inconscientes, “o inconsciente é relacional não por ser coletivo ou interpessoal, mas por só advir no interior de uma relação de fala específica e localizada” Goldenberg, R. (2023). É nessa chave que a psicanálise lacaniana pode sustentar que o inconsciente se estrutura não como um lugar fixo, interior, mas como uma operação: ele não está em nenhum dos dois pólos da relação, mas na fenda que os articula.

A estrutura do inconsciente, então, não se organiza como um espaço interno, mas como uma cadeia significante que só existe no campo do Outro. Em outras palavras, o inconsciente não é o “dentro” de alguém, mas o entre-dois que se instala a partir da fala. Trata-se, pois, de uma experiência essencialmente dialética, marcada por uma alteridade constitutiva. O sujeito não preexiste à linguagem: ele advém como efeito da articulação entre significantes. Isso implica que a experiência do inconsciente não pode ser reduzida ao indivíduo, nem ao seu histórico de eventos, tampouco às suas vivências emocionais. O inconsciente só se verifica na estrutura da linguagem e se manifesta enquanto fala dirigida.

A estrutura do inconsciente lacaniano é topológica, precisamente dentro da lógica mobiana, pois não se organiza como um dentro ou um fora, tampouco como uma cena entre dois sujeitos. Sua manifestação é disjuntiva: ele se apresenta onde a fala falha, onde o enunciado não coincide com a enunciação, onde o sentido se desfaz. Por isso podemos afirmar que o inconsciente é o discurso do Outro, ele não pertence ao eu, não é possuído por ninguém, e só aparece como um efeito e jamais como uma substância.

Ao afirmar que o inconsciente é estruturado como uma linguagem (Lacan, 2020) Lacan desloca radicalmente o eixo da escuta psicanalítica: não se trata mais de recolher conteúdos latentes escondidos sob o dito, mas de ler a cadeia significante tal como ela se estrutura no campo da enunciação. A linguagem não é um meio neutro, mas o próprio campo de constituição do sujeito. A fala, por sua vez, não se reduz ao conteúdo do que é dito, mas comporta, em sua materialidade, o surgimento de um saber que escapa ao sujeito cartesiano do eu. 

Esse deslocamento exige do analista uma escuta que ultrapassa o nível comunicacional. Não se trata de ouvir o que alguém tem a dizer sobre si mesmo como se esses dados formassem uma superfície plana e plenamente acessível, mas de escutar o modo como o sujeito se inscreve na linguagem e, mais ainda, como ele falha ao tentar fazê-lo. É na falha, na disjunção entre o que se diz e o que se quer dizer, que o inconsciente se presentifica. A fala do analisante, nesse sentido, não é tomada como relato, mas como acontecimento: a emergência de um sujeito que não se identifica com o eu que fala, mas que se revela nas fissuras do discurso, nos tropeços, no equívoco da linguagem.

A clínica lacaniana exige, portanto, que o caso seja construído não a partir de uma narrativa de vida, mas de uma estrutura que inclui o vivente em uma trama histórica e mítica. E essa estrutura é sempre significante. O sujeito do inconsciente emerge como produto de uma articulação significante que o ultrapassa, mas o constitui. Sem essa concepção, qualquer tentativa de construção de caso recairá no registro do comportamento, da psicologia do eu ou da moral terapêutica.

A implicação ética disso é decisiva: um caso clínico não é uma descrição de uma pessoa e suas queixas, mas uma leitura da posição de um sujeito na cadeia significante que o atravessa. Essa leitura exige que o analista se situe como operador de uma estrutura e não como intérprete de histórias de vida. A construção de caso, nessa perspectiva, é inseparável da teoria do sujeito que a fundamenta: não há caso sem sujeito, e não há sujeito fora da estrutura da linguagem.


Estrutura e significante: fundamentos da clínica lacaniana


Uma vez deslocado o eixo da escuta da interioridade psíquica para a estrutura da linguagem, torna-se necessário retomar com precisão os fundamentos sobre os quais Lacan reconstrói o edifício da clínica: a noção de estrutura, o estatuto do significante e a concepção de sujeito como efeito.

Dizer que o inconsciente é estruturado como uma linguagem implica, antes de tudo, compreender o que se entende por estrutura. Para Lacan, a estrutura é um conceito técnico, operatório, proveniente da linguística estrutural (Jakobson, Saussure) e das ciências humanas como a antropologia de Lévi-Strauss. 

A estrutura é aquilo que precede e organiza a experiência: não é “algo” sob o qual se colocam os fenômenos, mas o próprio modo pelo qual os fenômenos se tornam inteligíveis. O inconsciente, sendo estruturado, não é uma substância interior, mas um sistema: um campo de articulações regidas por leis próprias.

As operações do inconsciente, tal como formalizadas por Lacan, seguem as leis do significante. Um significante, em sentido estrito, não é uma coisa, nem uma ideia, tampouco um veículo de significado próprio. Trata-se de uma unidade relacional cuja função só pode ser definida negativamente: o significante não significa a si mesmo, o significante sozinho não significa nada e não há significante senão articulado. Seu valor só pode ser constituído a partir da diferença, da articulação com outro significante, e do efeito retroativo dessa relação.

Essas propriedades do significante operam uma ruptura radical com a tradição representacional da linguagem onde o signo está submetido à lógica da comunicação: representa algo para alguém, num circuito fechado de sentido. O significante, ao contrário, não representa um objeto, ele opera na cadeia como diferença pura. Seu valor não é referencial, mas posicional. Não há significante em si, nem significado próprio: há lugar na estrutura, marcado por cortes, repetições e articulações. O que chamamos de “sentido” não é dado, mas construído a posteriori e sempre instável. Ele emerge do funcionamento da cadeia, da retroação significante, e não de qualquer intenção ou conteúdo.

Essa lógica é absolutamente decisiva para a construção de um caso clínico que se oriente pela teoria proposta por Lacan. Um analista que escuta palavras como “fracasso”, “abandono” ou “tristeza” como se fossem automaticamente significantes, por sua frequência ou carga afetiva, incorre numa operação de captura imaginária. O risco aí é o de tomar o sofrimento como signo, o sintoma como uma evidência, e o caso como uma narrativa empirista. O que está em jogo na escuta analítica, no entanto, não é o conteúdo do dito, mas a função do dizer. 

O significante nos termos precisos de Lacan é aquilo que representa um sujeito para outro significante, e não para um outro sujeito. Essa é a fórmula clássica que Lacan insiste ao longo de seu ensino para marcar a ruptura radical com a concepção do sujeito psicológico. Trata-se de um enunciado que condensa o núcleo de sua teoria do sujeito como efeito e não substância. O sujeito do inconsciente, assim, não é o falante empírico, mas o que se escreve no ponto de falha da cadeia: sempre descontínuo, sempre como um efeito, pontual e evanescente.

Esse sujeito não se confunde com a pessoa, nem com o eu, pois é o efeito que surge do intervalo, da lacuna no discurso, se constitui da falha na consistência do enunciado. Quando dizemos que o sujeito “aparece”, não nos referimos a uma substância que se manifesta, mas a um efeito lógico de deslizamento, de falha ou de tropeço. O sujeito é o que escapa. E é nesse ponto que a noção de construção de caso adquire densidade: construir um caso é operar uma leitura da posição do sujeito como efeito significante e não uma descrição do eu e seus sofrimentos, seus dilemas de vida pura e simplesmente.

A estrutura, nesse sentido, não é o pano de fundo da história pessoal. Ela é a própria condição de possibilidade da emergência subjetiva. Todo sujeito está submetido à estrutura, e só pode advir como tal por meio dela. É por isso que o caso, para ser analítico, deve ser construído segundo a lógica significante e não segundo a lógica causal, psicológica ou terapêutica. Não é o que o analisante diz que importa, mas como ele se inscreve, ou falha em se inscrever, na cadeia significante e na histórica mítica que atravessa sua constituição.

O desafio do analista não é, portanto, interpretar os conteúdos, mas ler operações significantes nos cortes, nas repetições, nos equívocos e nas falhas da comunicação. A clínica lacaniana exige uma escuta que se descole da busca de sentido e se oriente pela função da estrutura incluindo o campo de onde o sentido escapa. 




Da fala à leitura: o estatuto da escuta analítica


Se a clínica lacaniana se organiza a partir da primazia do significante e da estrutura, a escuta do analista não pode se limitar à recepção do discurso manifesto. Trata-se, antes, de uma operação de leitura. Essa distinção é essencial: ouvir não é suficiente; é preciso ler o que se escuta.

A diferença entre escutar e ler remete à distinção entre o que se diz e o que está sendo dito. O que se diz corresponde ao nível do enunciado, da cadeia discursiva tal como é organizada pelo eu.

Já o que está sendo dito remete à enunciação ao lugar estrutural de onde a fala é emitida, ainda que o sujeito não tenha consciência disso. O sujeito do inconsciente, em Lacan, não é o sujeito que fala, mas o sujeito que é falado, e que nisso escapa, que desliza entre os significantes, que tropeça na fala. A leitura, nesse contexto, é a escuta também dessas falhas e seus efeitos no discurso.

Para que isso seja possível, é necessário que o analista se desloque da posição de intérprete da narrativa para a de leitor de operações estruturais. O que está em jogo não é o conteúdo da fala, mas, principalmente, sua função: como a fala se articula, o que ela repete, como ela falha, onde ela hesita. É nesse ponto que a escuta se torna uma leitura: quando o analista deixa de escutar o “sentido” da fala para operar sobre seus efeitos de significação na inclusão da falha do sentido.

Essa distinção é também ética, pois, ao se manter na escuta do enunciado, o analista corre o risco de capturar-se na demanda do analisante frequentemente moral, comportamental ou terapêutica. Essa captura é reforçada pela transferência, que tende a colocar o analista na posição de mestre, como aquele que “saberia” o que o sujeito “realmente quer”. Ceder a essa captura é renunciar ao ato analítico.

É por isso que a escuta lacaniana exige que o analista se mantenha à altura da função de causa, e não de resposta. A leitura do que está sendo dito só se torna possível quando o analista suporta o não-saber sem completá-lo com explicações, soluções ou conselhos. A leitura analítica requer uma operação que supõe, no princípio subversivo da clínica, a não coincidência entre sujeito e eu, entre fala e discurso, entre demanda e desejo.



A formalização do caso


O uso da estrutura na formalização construtiva de um caso clínico exige que o material discursivo da experiência analítica seja pensado em termos de articulações e posições, e não como um relato empírico da realidade, e nem como uma descrição fenomenológica do sofrimento. O discurso do analisante, para que se inscreva na estrutura, deve ser trabalhado a partir do que nele retorna como significante e do que nele se marca como uma posição do sujeito em relação ao campo do Outro. Nesse ponto, introduz-se a noção de cena ou de bucle como uma unidade formal da operação analítica a partir da lógica dos significantes-mestres produzidos em análise.

Trata-se de uma formalização orientada por uma hipótese, a de que não há caso clínico propriamente dito senão como efeito de uma estrutura significante e uma relação transferencial. Por isso, propõe-se que a escuta seja direcionada, via formalização, a partir de quatro conjuntos discursivos, ou de blocos de articulações que, ao serem lidos em sua repetição, permitem situar a posição do sujeito na narrativa mítica neurótica.

Essa formalização retoma, sob uma chave clínica, a tese lacaniana segundo a qual uma estrutura requer, no mínimo, dois pares de significantes. Um caso, portanto, não se constitui por uma sequência de eventos ou dados biográficos relevantes, mas por uma cadeia de articulações que produz efeitos entre significante e sujeito. Em cada cena, o sujeito retorna ao ponto de sua divisão, onde algo escapa à simbolização, onde insiste o mesmo e onde o sintoma se impõe como um operador de verdade.

O objetivo, nesse regime de leitura, não é descrever a história de um paciente, mas extrair os pontos onde a estrutura se manifesta. O bucle, tal como vemos no ensino de Lacan, constitui a unidade mínima da estrutura: é a cena em que um significante representa, como dito anteriormente, um sujeito para um outro significante. Mas, para que se possa construir um caso, um único bucle não basta. É necessário que se produza um encadeamento: ao menos quatro significantes articulados que sustentem uma lógica repetitiva e permitam a leitura da estrutura.

Cada um dos pares significantes traz a posição particular do sujeito na narrativa mítica de sua neurose, a lógica da repetição vinculada a historização e a anamnese do sintoma e opera como uma montagem de elementos cuja articulação permite localizar a relação entre o saber sobre a verdade do desejo inconsciente.




Da teoria à práxis: o caso como efeito da estrutura


A psicanálise é uma práxis. Essa formulação, frequentemente reiterada, implica uma consequência epistemológica: a impossibilidade de dissociar teoria, técnica e clínica como domínios autônomos. Para além disso, a práxis lacaniana é teorizada por Lacan, no seminário 11, como a ação humana que pode tratar o real e a inscrição de sua impossibilidade, pela via do simbólico. Não há teoria “em si”, nem uma prática a ser “aplicada”. Há o que se sustenta numa posição e esta é inseparável da estrutura teórica que a funda e fundamenta. A construção de caso não pode, assim, ser concebida como uma técnica derivada da teoria, mas deve ser pensada como efeito de uma superfície contínua, onde teoria e prática se enlaçam de forma topologicamente torcida como numa banda de Möbius.

Essa formalização topológica indica, de modo rigoroso, a torção estrutural que dissolve a dualidade entre teoria e prática. Não se transita de uma à outra como entidades separadas, encontra-se num campo único, num espaço topológico, onde qualquer distinção local se desfaz ao longo do percurso.

A construção de caso é, portanto, sempre uma formalização não da experiência empírica, mas da própria teoria com a qual se sustenta a escuta. Tal teoria não constitui um acervo de conceitos ou uma coleção de saberes acumulados. Trata-se da organização lógica da posição subjetiva que o analista ocupa frente ao desejo, à linguagem e ao real. A psicanálise aparece a cada vez com o analista.

Ao sustentar que a clínica lacaniana é inseparável da estrutura que a funda, recusamos tanto o psicologismo quanto o tecnicismo. O primeiro reduz a clínica ao plano imaginário, atribuindo aos fenômenos uma causalidade interior. O segundo a congela em procedimentos e protocolos, esquecendo o caráter estrutural e da ética do desejo da práxis.

A construção de um caso, assim, requer a inscrição dessa práxis: um campo topológico onde o analista lê, opera, corta e, ao fazê-lo, produz sua própria leitura da psicanálise na particularidade transferencial daquele caso.


Fracassar


A construção de caso, em psicanálise, se orienta pela estrutura, pela lógica e pelo estatuto do significante como uma produção. O que se constrói, portanto, é a formalização de um percurso em que um sujeito do inconsciente se inscreve e falha em se inscrever na cadeia discursiva.

Tal operação exige uma posição ética precisa, a ética do desejar subversivo à modernidade, nesse campo, sustentar eticamente o impossível e a falta da estrutura. A construção de caso não pode ceder à tentação do fechamento, da completude ou do sentido pleno. Pois consiste em recolher os efeitos de uma escuta que renuncia ao saber garantido, ao saber todo e que, justamente por isso, lê onde há um furo.

Formalizar um caso é, também, recusar a ilusão de que a análise visa adaptar, curar ou normalizar. O caso bem construído não é aquele que organiza todas as cenas, todas as memórias, todo o relato, mas, ao contrário, o que desloca subversivamente as demandas de completude idealizadas.

Embora a prática clínica exija ferramentas, nenhuma ferramenta analítica pode ser tomada como uma garantia última. A construção de um caso tampouco escapa a essa lógica, o objetivo não é o de garantir-se, mas o de instrumentalizar a operação com o real.

Por isso, na clínica lacaniana, a construção de caso não é separável da posição do analista. Só há caso clínico quando há sujeito do inconsciente e só há sujeito do inconsciente quando o analista sustenta a falta como um operador. O caso bem construído é aquele que, no seu próprio modo, sabe fracassar: sabe não representar o todo. E, por isso mesmo, sabe dizer algo daquilo que insiste como impossível.





 
 
 

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1 comentário


Fernanda Estessi
Fernanda Estessi
11 de out.

Texto incrível. Não apenas pela forma, mas por tudo o que ele provocou em mim. Especialmente a certeza de que me inscrever na oficina de escrita de caso é mais um passo importante na minha clínica. Bora!

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